terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Pois é pai...

Tudo foi tão insanamente rápido, mas ao mesmo tempo sua luta foi muito longa e árdua.
Me lembro de uma manhã de Julho (2015) fechando nossas passagens para passar o Natal no Brasil, eu me sentia como uma criança que ganha aquele tão desejado brinquedo, sem conseguir esconder minha felicidade, avisei todos os familiares e fiz milhares de planos. Até me esqueci de que nenhum planejamento meu havia dado certo no ano anterior.
A notícia de que o meu pai estava enfim se tratando com o tal remédio milagroso que conseguiu através da Justiça me enchia o peito de esperança e positividade, a cura da Hepatite C estava logo ali, eu já podia sentir o cheirinho da vitória. Imaginava que em Janeiro de 2016 quem sabe o meu pai não poderia vir conosco pra Australia, já pensou??? Ele vai pirar aqui (eu pensava toda feliz).

Foi quando em Agosto recebemos o murro na cara. O câncer dele voltou, e infelizmente, muito mais agressivo que o anterior. Estimativa de vida? hum.. difícil falar (disse o médico). Pesquisei incansavelmente no Google e gelei quando li: de 2 semanas a 2 meses de vida.
COMO ASSIM????
Ele estava indo bem, lutando com todas as suas forças, tomando o tal remédio que iria cura-lo e agora  vocês me vêm com essa???

E mais uma vez, a corrida contra o tempo a procura de remarcação de passagem para o Brasil. O pânico tomava conta de mim, acabei de perder minha mãe, o meu coração ainda nem tinha se reconstruído, estava todo despedaçado. E agora, ainda tenho a Lara, 2 meses e meio de vida.... e eu não tenho outra escolha, preciso mais uma vez ser forte.
A angústia era grande, não conseguia encaixe nos vôos mais próximos, e eu gelava só de pensar que ele poderia morrer sem conhecer a minha filha e sem eu vê-lo uma última vez.
Mas, Deus é Pai e nunca nos abandona. Chegamos ao Brasil!

Ele estava internado, quando o vi, custei a engolir o nó na garganta. Ele estava pele e osso literalmente, aquele não era meu pai. Seu rosto emocionado de me ver, logo se levantou da cama com muito esforço e me abraçou. Não conseguimos segurar as lágrimas de emoção pelo reencontro, mas de muita dor pela pancada que o destino nos deu. Foi surreal abraçar aquele corpo ossudo, não tinha calor, o meu braço conseguia dar voltas em seu corpo, e foi aqui que me lembrei de que ele era um paciente terminal.
........... (muitos nós na garganta).
Um filme se repetia na minha mente. E eu, com muita revolta pensei: Tudo de novo meu Deus? Por que?

...... assim os dias se passaram....

No dia 27 de Outubro, acordei, estávamos todos muito exaustos, meu pai não estava bem ha alguns dias, por isso revezávamos a noite com ele.
Eu sentia que ele já estava sendo desligado espiritualmente, mas algo o prendia ali, naquele corpo físico.
Depois do meu café da manhã, conversei com a minha madrinha que estava conosco, e pedi para que ela me ajudasse a conversar com ele (que já estava completamente inconsciente), pois eu não sabia como dizer ao meu pai que ele podia partir tranquilamente, o meu coração queria, mas minha boca não se movia, como que num estado de choque.
E assim, conversamos com ele, pedimos para ele descansar, que aqui ficaria tudo bem, cuidaríamos de tudo com muito amor. Agradeci por tudo e o expliquei como seria a passagem para o plano espiritual para que ele não tivesse medo. Choramos muito, me senti num filme, parecia que aquilo ali não estava acontecendo comigo.
Umas duas horas depois, resolvemos interna-lo. E enquanto eu e minha irmã ligávamos para o hospital agendando a internação, a enfermeira que cuidava do meu pai em casa veio até a cozinha e disse que sua oxigenação estava baixíssima e sua saturação nem conseguia ser medida. Fomos até o quarto e averiguamos de que o momento estava próximo (pois o médico já havia nos explicado como tudo aconteceria).
Depois de um tempo voltamos pra cozinha para agilizar a ambulância, quando a enfermeira chegou correndo: "os batimentos cardíacos estão parando".
Me lembro que minha irmã estava com o médico dele na linha, ela disse com uma voz trêmula: "Ai Dr. Silvio, acho que ele morreu." Desligou o telefone e corremos para o quarto.

Ele ainda estava com os olhos abertos, mas realmente, ele havia partido. Todas chorávamos muito, quando eu senti a necessidade de orar pra ele. Assim como com a minha mãe, eu respirei fundo, peguei o evangelho segundo o espiritismo e fiz a Oração para os que acabam de desencarnar. Logo em seguida conversei mais uma vez com ele: "Vai com Deus pai, obrigada por tudo, me perdoe por qualquer coisa e receba aqui também o meu perdão. Não se assuste, você agora está retornando ao plano espiritual, tenho certeza de que muitos conhecidos seus desencarnados estão aqui presentes para te acompanhar. Descanse em paz".

......... e assim ele se foi. Assim, perdemos nosso pai. Assim, nossos corações que já se encontravam debilitados, levou mais uma rasteira da vida.
E agora?
Agora a vida segue, não se tem mais o que fazer. A vida segue pra nós e pra eles que estão de volta ao lar.
E a saudade, essa vai existir pra sempre, e como tudo na vida, nós aprenderemos a lidar com ela.