terça-feira, 16 de dezembro de 2014

16-06-2014

Naquela segunda-feira eu acordei pela manhã e alguma coisa me dizia que aquele dia não seria muito bom.
Mas, mesmo assim, eu tomei um banho correndo, engoli um café da manhã (sem apetite) e saí a procura de uma floricultura. Eram 8 horas da manhã, e depois de 2 tentativas, consegui achar.
Estava em dúvida. Qual flor deveria eu escolher? Tinha que ser a mais linda, mas meus olhos estavam tensos, eu tremia, e meio que achava tudo sem graça. Sem muito tempo para pensar, escolhi um arranjo de orquídeas que meu coração me direcionou e corri para o hospital.
O céu estava cinza, o sol estava escondido. Era dia 16 de junho de 2014.
Cheguei no quarto dela e cantamos parabéns, nessa hora meu coração estava muito feliz, mas ao mesmo tempo em pânico, a voz falhava e a garganta apertava e o choro teimava em escorrer pelo nosso rosto que disfarçava a dor com sorrisos, tentando passar segurança pra ela.
Ela me reconheceu quando eu cheguei e eu pude notar sua carinha de feliz ao ver as flores e os parabéns. Mas, foi bem rápido, pois logo ela já perdeu a lucidez.
Foi o parabéns mais estranho da minha vida. Nós cantávamos mais um ano de vida, sabendo que seria o último dia dela.
As enfermeiras vieram, fizemos uma mini festa ali, mas a aniversariante já não estava mais presente espiritualmente. O corpo sim, ainda lutava bravamente, mas eu sentia que seu espírito já estava se desprendendo da matéria porque ela não nos reconhecia mais, gritava muito, retorcia os olhos..... nem gosto de lembrar.

Depois desse breve momento, eu mal consegui ficar no quarto, ver ela daquele jeito me doía. Eu fui forte durante todos os 6 meses em que ela precisou de mim, mesmo com o coração sangrando eu nunca a deixei, mas nesse dia, eu não consegui, não sei explicar, mas eu só ia no quarto, ficava cinco minutos, rezava e ia pra pracinha do hospital. Me sentia perdida, tendo que ser forte, mas não via a hora de poder sair correndo e só chorar, e sentir a minha dor.

E depois de horas e horas de angústia, ela fechou os olhos e partiu. Eu tinha acabado de sair do quarto para ver os meus sogros na recepção do hospital. Quando eu abracei a minha sogra, minha irmã chegou com aquela carinho dela de choro e disse: "Irmã, vem", me fazendo um sinal positivo com a cabeça, como quem diz: "sim, ela se foi".
Segurei na mão dela e voltamos correndo para o quarto, aonde se encontravam os irmãos, cunhadas, meu pai e minha vó. O médico e a assistente social também estavam lá conferindo os sinais vitais. Minha avó em pânico, dizendo que ela ainda não tinha morrido, que o médico deveria checar bem.
E quando terminou, eu pedi aos enfermeiros que deixassem apenas os familiares no quarto. Fechei a porta, peguei o evangelho e li a oração dos que acabam de desencarnar.
Eu juro por Deus, que eu não sei de onde tirei forças para ler todo aquele lindo e longo texto, na verdade, eu sei, eu estava sendo guiada por espíritos de luz, que sabiam que a minha mãe precisava muito daquela oração.
Enquanto eu lia aquelas palavras, eu sentia a paz tomar conta daquele quarto, eu percebia que mesmo perturbados e muito emocionados, todos conseguiam prestar atenção e entender a leitura com o coração.

E assim, deixamos minha mãe partir em paz.

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